segunda-feira, 25 de maio de 2015

Manuel de Freitas


Sabes tão bem como eu
que a Rua de Santa Maria
não tem fim. Ladeia o oceano,
demora-se junto de cães sentados
e oferece quando pode um cigarro
à primeira puta que afasta as cortinas.

Para trás fica o comércio,
indiferente ao sino cansado
da Sé e aos gins (se te lembras)
do Sunny Bar. Mas passámos já
a débil fronteira, depois do Mercado.
Pontas de charros no chão - um aviso.

Ou as mulheres que se encostam
às portas pequenas que nos chamam
para o último copo de Jacquê.
Como se fosse (digamos assim) a vida
e tivesse agora tanto espaço para morrer.


In Sunny Bar, sel. de Rui Pires Cabral, 
Lisboa: Alambique, 2015

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