segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Jean Cocteau (2)

GRAVIDADE DO CORAÇÃO


A água das fontes corre gravemente como a boca de um cão. A rosa intimida-me. Nunca ri. E a árvore dorme de pé. Não brinca. Ordena, por exemplo, à sua sombra: deita-te, descansa, partimos assim que anoitecer. Ao anoitecer, a sombra sobe-lhe para os ramos e partem.
Quem ama escreve nas paredes.
Se eu visse o meu coração, já não teria coragem para te sorrir. Ele trabalha demasiado nesta noite sem lua. Deitado sobre ti, espreito o seu galope, que me traz uma má notícia.


- in Tanta coisa por dizer,
trad. Inês Dias,
Lisboa: Língua Morta, 2012

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