sábado, 20 de abril de 2013

A ERVA-ANDORINHA E A CURA DA CEGUEIRA

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Creio que a poesia, mais do que o que diz, ama o que se furta ao dizer. “A tarefa do poeta: após descobrir – encobrir” (Marina Tsvietaieva, Indícios Terrestres). A poesia não é moderna. O espírito moderno é o da descoberta. A poesia, porém, recobre, revela. O espírito moderno é o do novo. A poesia trata da origem (e “a novidade é a antítese da originalidade), segundo a expressão de George Steiner em “Presenças Reais”). O espírito moderno é invenção, progresso. Na poesia o movimento é um regresso, é o verso. O espírito moderno é técnico, mecânico. O da poesia é rítmico. Para o espírito moderno, democrático, o segredo escandaliza e a devassa legítima. Mas a poesia, se diz o segredo é para o preservar intacto, para o transmitir mais puro (Luiza Neto Jorge: “Não podendo falar para toda a terra/ direi um segredo a um só ouvido”). O espírito moderno é proclamação, palavra de ordem, reclamação e grito. A poesia nada mais pode senão o canto e o murmúrio. Ela teme que sobrevenha ao coração dos homens a cólera de Enlil. “Disse ele aos deuses reunidos em conselho: ‘O tumulto da humanidade é intolerável e já não é possível dormir com esta confusão.’ E assim os deuses concordaram em exterminar a humanidade” (A Epopeia de Gilgamesh).

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