foi necessário pôr-te neste mundo
como se exibe uma ferida sem pudor.
Assim me condenei a ter-te pela trela,
a dar-te de comer três vezes cada dia,
a tirar-te os parasitas:
o sonho, o absoluto,
na precisão de crer-te meu igual.
Mas eu sou generoso:
ainda pela alva ao perfume das rosas
autorizo-te a dizer que foste tu
que me criaste.
Voltemos para casa, caro cão:
vai buscar-me o teu osso
e dorme diante da lareira
com o olhar molhado de ternura."
Alain Bosquet, O Tormento de Deus,
trad. Jorge Guimarães,
Lisboa: Quetzal Editores, 1992
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