quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CERIMÓNIA FUNESTA


O corpo não responde
às vozes de comando,
como um cão estropiado
já desdenha os apelos
os antigos convites
às funestas moradas,
esqueceu-se do ponto
vai olvidando senhas
os códigos das grutas
acumulando lixos,
as servidões austeras
diluem-se num canto
o corpo não atende chamadas
não estreme ao ruído da chave
não suporta
qualquer intromissão
secou num aterro,
os restos à vista
a memória escava
da lembrança os rastos
avidamente suga
de tal fausto os ossos,
de tão vitais cerimónias
nos tão secretos barcos
mesmo o pouco que resta
ainda se mastiga.


Fátima Maldonado
in Telhados de Vidro n.º1
Lisboa: Averno, Novembro de 2003

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