segunda-feira, 7 de maio de 2012

RUÍDO ÚMIDO


o amanhecer é triste
a lua ainda expulsa
à pia da manhã
os últimos dos cães
vermelho amarelo prata
despertar é despedida
(com um lenço quadriculado
na cabeça, um elegante
sobretudo claro, mirando
algo delicado do outro
lado da rua, as mãos nos
bolsos, rindo, sabemos que ela é
Sylvia Plath, e que, depois de tudo,
a palavra vida não
a levou de volta para casa)
chuto pequenas pedras
observo pequenas trevas
que ainda sobrem nas lacunas
ornamentais e fixo
o desalento


Fabiano Calixto, Sanguínea,
São Paulo: Editora 34, 2007

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